Blog destinado à publicação e discussões em torno de textos ligados aos temas: Educação, Língua Portuguesa e Literatura.
segunda-feira, 28 de julho de 2014
domingo, 27 de julho de 2014
A Revolução dos Bichos, de George Orwell
O poder do poder
Por Danieli Chagas
Quando
fala-se de poder, as pessoas pensam imediatamente a uma estrutura política, um
governo, uma classe social dominante, o mestre frente ao escravo, etc. isto não
é de nenhum modo aquilo que eu penso quando falo de relações de poder. Eu quero
dizer que, nas relações humanas, qualquer que sejam - que trate de comunicar
verbalmente, como fazemo-lo agora, ou que trate-se de relações amorosas,
institucionais ou econômicas -, o poder continua presente : eu quero dizer a
relação na qual um quer tentar dirigir a
conduta do outro. (Michel Foucault)
A Revolução dos Bichos, do escritor
inglês George Orwell, é uma fábula que narra a revolução travada pelos animais
da Granja do Solar rumo à liberdade a despeito da dominação e tirania humanas.
Embora planejada, a revolução acontece meio que acidentalmente e os bichos
acabam por expulsar da granja o Sr. Jones, seu proprietário. Mas em vez de,
como programado a princípio, passarem a dispor de mais comida, menos trabalho e
a tão sonhada liberdade, os bichos se veem, com o tempo, em situações de maior exploração
que as vividas no tempo de domínio humano. Habitada por cães, ovelhas, vacas,
cavalos, porcos e outros animais, a Granja do Solar, chamada após a revolução
de Granja dos Bichos, passa a ser dirigida pelos mesmos. Esses estabelecem
inicialmente regras que regeriam a nova granja, a saber: “qualquer coisa que
ande sobre duas pernas é inimigo”, “nenhum animal usará roupas”, “nenhum animal
beberá álcool”, “nenhum animal dormirá em camas”, “nenhum animal matará outro
animal”, “todos os animais são iguais”, dentre outros.
Logo de
início se estabelece o consenso de que os porcos são melhor dotados para
dirigir a granja e o porco Napoleão, isso mesmo: Napoleão, passa a dirigir a
granja junto com o porco bola-de-neve, que acaba futuramente expulso da granja
acusado por Napoleão de estar tramando contra os bichos junto com humanos. O
curioso é que, por conta da “necessidade de se alimentarem bem por gastarem
muita energia intelectual para dirigir a granja” e outras justificativas, os
porcos acabam tendo mais comida, ficando com as sobras das maçãs colhidas, do
leite tirado das vacas, do feno e outros frutos do trabalho dos animais, que
recebem cada vez menos comida. Ao final da fábula, os porcos, cujas decisões
controversas são sempre bem justificadas pelo porco chamado garganta, já
habitam a casa do Sr.Jones, dormem nas camas da casa, vestem as roupas dos humanos,
bebem cerveja, negociam com os proprietários das granjas vizinhas e ameaçam de
morte os animais que se atrevam a questionar sua atitude.
O texto de
Orwell foi escrito durante a segunda guerra mundial e publicado em 1945, antes
do fim do conflito. Desde então tem sido visto como crítica ao stalinismo, nazismo,
facismo, tendo sido utilizado até mesmo como arma ideológica contra o comunismo
durante a Guerra Fria. Se trouxermos tais reflexões para os dias atuais, vemos
que a leitura de A Revolução dos Bichos
nos mostra que, assim como acontece com os animais na granja do Solar, muitos
infortúnios, seja trazidos por guerras e genocídios em um plano mais amplo e
condenável, seja idealizados na propagação de mentiras ou verdades distorcidas
em período eleitoral num plano quisto mais inocente, estão sempre ligados a um
visceral desejo por poder.
domingo, 20 de julho de 2014
Urubus e sabiás
Rubem Alves
Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... Os urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza eles haveriam de se tornar grandes cantores. E para isto fundaram escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, mandaram imprimir diplomas, e fizeram competições entre si, para ver quais deles seriam os mais importantes e teriam a permissão para mandar nos outros. Foi assim que eles organizaram concursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu titular, a quem todos chamam de Vossa Excelência. Tudo ia muito bem até que a doce tranqüilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. A floresta foi invadida por bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam serenatas para os sabiás... Os velhos urubus entortaram o bico, o rancor encrespou a testa , e eles convocaram pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito.
— Onde estão os documentos dos seus concursos? E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais coisas houvessem. Não haviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. E nunca apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar, mas cantavam simplesmente...
— Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem.
E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás...
MORAL: Em terra de urubus diplomados não se houve canto de sabiá.
— Onde estão os documentos dos seus concursos? E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais coisas houvessem. Não haviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. E nunca apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar, mas cantavam simplesmente...
— Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem.
E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás...
MORAL: Em terra de urubus diplomados não se houve canto de sabiá.
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