Resenha de Um Apólogo, de Machado de Assis
Por Danieli Chagas
Diz o consenso que todo bom autor ou compositor também produz obras
menores. Difícil é, entretanto, falar de uma obra machadiana sem acreditar na
exceção dessa regra pré-estabelecida popularmente. Os recursos discursivos, o
caráter analítico dado pelo texto às paixões humanas e o brilhantismo com que as
põe em voga através do emprego da ironia, como feito por poucos, cobre sua obra
de significados expressos como só Machado sabe fazer.
No diálogo em que a linha e a agulha travam em Um apólogo, as duas discutem quem é a mais importante, cada uma tecendo
argumentos em favor de sua indispensabilidade enquanto ambas são utilizadas
pela costureira . Embora a provocação inicial parta da agulha, é a linha que
vence a argumentação triunfalmente, rebatendo a agulha ao dizer que , por mais
que sua dissidente abra os caminhos para que
possa costurar os tecidos, é ela, a linha, quem vai ao baile, no corpo
da baronesa, dançar com diplomatas e ministros, sendo sua oponente
obrigada a voltar para a caixinha da
costureira.
O desfecho é inovador e surpreende não por terminar com uma moral, o que
, aliás, é esperado pelo leitor atento pelas características que Machado toma
emprestadas da fábula para compor sua narrativa. Mas provoca uma quebra no
texto ao apresentar um narrador em primeira pessoa, diferente de suas
intervenções até então em terceira pessoa, e por ser essa moral muito mais
ligada a um público adulto, a quem muito provavelmente se destina, que a um
público infantil, bem como pelo seu pessimismo característico, sobretudo, dos
contos que compõem a coletânea Várias
Histórias como A Cartomante, por
exemplo.
Diferente de algumas obras de Machado, sobretudo os romances, que são
ricos em detalhes que descrevam as atitudes nos mais variados meios, desde a
política à vida familiar, em que são reveladas as mais profundas peculiaridades
inerentes à natureza humana de forma profundamente densa, Um apólogo pode ser considerado por muitos uma leitura fácil e
clara. Por isso, tal obra pode ser utilizada até mesmo didaticamente sem muitas
dificuldades por um público adolescente e mesmo infantil, mas não deixa a
desejar em nada a outros contos e romances machadianos em material para
reflexão.
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