segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014


Educação a distância: prós e contras

                    Diferente do que muitos pensam, a Educação a distância tem início já em meados do século XIX, na Europa, com a criação dos cursos por correspondência. Tais cursos, que começam no Brasil no início do século XX, são de caráter principalmente profissional e se expandem por todo o mundo, evoluindo no final da primeira metade do século XX para o que podemos chamar de segunda fase da EAD, que no Brasil, em especial, surge com a criação do rádio e em seguida da televisão, facilitando o surgimento das produtoras de conteúdos educativos por redes radiofônicas e após dos telecursos, que convivem ainda com os cursos por correspondência. Mas é a partir do final da década de 60, com a criação da Open University, na Inglaterra, e futuramente com a popularização dos computadores que a educação a distância começa a dar os primeiros passos para chegar ao formato que conhecemos hoje, alcançando maior visibilidade e passando a ser reconhecida pelas autoridades brasileiras com a consequente criação da Universidade Aberta do Brasil em 2005 e com o início de uma tentativa de legislar a área no mesmo ano. Mesmo com sua popularização, entretanto, principalmente em se tratando dos cursos desenvolvidos em Ambientes Virtuais de Aprendizagem - AVAs, a Educação a distância ainda gera receios.

     E você? O que pensa sobre Educação a Distância? Quais seriam seus prós ou contras? E se falarmos em educação mediada por tecnologias da informação e comunicação? É a mesma coisa?

domingo, 23 de fevereiro de 2014

                        

Resenha de Um Apólogo, de Machado de Assis
Por Danieli Chagas


Diz o consenso que todo bom autor ou compositor também produz obras menores. Difícil é, entretanto, falar de uma obra machadiana sem acreditar na exceção dessa regra pré-estabelecida popularmente. Os recursos discursivos, o caráter analítico dado pelo texto às  paixões humanas e o brilhantismo com que as põe em voga através do emprego da ironia, como feito por poucos, cobre sua obra de significados expressos como só Machado sabe fazer.
Em Um Apólogo, conto publicado em 1896 na coletânea Várias Histórias, o autor descreve basicamente o diálogo entre uma agulha e um novelo de linha enquanto, na casa de uma baronesa, uma costureira as utiliza para compor o vestido a ser utilizado pela dona da casa em um importante baile. Machado abre o conto com a expressão Era uma vez, muito comum em contos infantis como os dos irmãos Grimm, por exemplo, que tornaram-se referência  na construção de todo um imaginário infantil através de sua obra. Por mais que lhe possa ser atribuído uma estrutura narrativa ao estilo das histórias infantis, assumindo um caráter profundamente didático, inclusive, que não nega nem mesmo a moral da história ao final, Um apólogo não foge a uma das principais características da obra machadiana, a saber, o construir, estruturar, expor ou analisar o que já foi chamado por muitos de anatomia do caráter humano, bem ao estilo realista, mas feita por Machado sempre com maestria atemporal.
No diálogo em que a linha e a agulha travam em Um apólogo, as duas discutem quem é a mais importante, cada uma tecendo argumentos em favor de sua indispensabilidade enquanto ambas são utilizadas pela costureira . Embora a provocação inicial parta da agulha, é a linha que vence a argumentação triunfalmente, rebatendo a agulha ao dizer que , por mais que sua dissidente abra os caminhos para que  possa costurar os tecidos, é ela, a linha, quem vai ao baile, no corpo da baronesa, dançar com diplomatas e ministros, sendo sua oponente obrigada  a voltar para a caixinha da costureira.
O desfecho é inovador e surpreende não por terminar com uma moral, o que , aliás, é esperado pelo leitor atento pelas características que Machado toma emprestadas da fábula para compor sua narrativa. Mas provoca uma quebra no texto ao apresentar um narrador em primeira pessoa, diferente de suas intervenções até então em terceira pessoa, e por ser essa moral muito mais ligada a um público adulto, a quem muito provavelmente se destina, que a um público infantil, bem como pelo seu pessimismo característico, sobretudo, dos contos que compõem a coletânea Várias Histórias como A Cartomante, por exemplo.
Diferente de algumas obras de Machado, sobretudo os romances, que são ricos em detalhes que descrevam as atitudes nos mais variados meios, desde a política à vida familiar, em que são reveladas as mais profundas peculiaridades inerentes à natureza humana de forma profundamente densa, Um apólogo pode ser considerado por muitos uma leitura fácil e clara. Por isso, tal obra pode ser utilizada até mesmo didaticamente sem muitas dificuldades por um público adolescente e mesmo infantil, mas não deixa a desejar em nada a outros contos e romances machadianos em material para reflexão.



sábado, 22 de fevereiro de 2014

Um pouco de Machado de Assis

Esta primeira postagem é dedicada aos meus alunos herdeiros da paixão pela obra do grande escritor Machado de Assis, que mediando minhas releituras ressignificaram minha forma de lê-lo.

Um Apólogo

Machado de Assis

Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora?  A senhora não é alfinete, é agulha.  Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa!  Porque coso.  Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?
— Você?  Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando...
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser.  Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?  Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...
A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:
— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas?  Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha: 
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico. 
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!